O que é um atendimento jurídico sistêmico?
A advocacia sistêmica pressupõe um tipo de atendimento jurídico que entende a justiça para além de processos litigantes (ou seja, levar o processo ao poder judiciário), focando mais na resolução dos conflitos em si. Para alcançar esse objetivo, a pessoa advogada usa outras habilidades e ferramentas, além daquelas aprendidas na faculdade de direito. Incluem-se novos conhecimentos que ajudam a compreender as relações humanas de forma mais ampla e complexa. Existem diferentes abordagens, podendo agrupar princípios da psicologia, constelações familiares, neurociência, fotolinguagem, entre outros.
Na advocacia sistêmica, a análise e a atuação são mais estratégicas, humanizadas e consensuais. Estratégicas, porque buscam relacionar os elementos que compõem o contexto do conflito a ser resolvido de forma mais ampla do que análises de causa e efeito. Humanizadas por entenderem que a pessoa que procura atendimento é um ser humano integral, e não apenas um número no processo, o que significa levar em consideração a influência de diferentes aspectos da vida: racionais, emocionais, psicológicos, financeiros e sociais em seu contexto próprio. Por fim, consensual refere-se a tentativa de reconstruir o diálogo entre as partes envolvidas no conflito para encontrar uma solução, preferencialmente sem a necessidade de entrar com ação no poder judiciário, observando-se evidentemente os casos nos quais não haja essa possibilidade, especialmente em situações de violência.
Entre as ferramentas utilizadas, estão o apoio, a escuta ativa, as perguntas respeitosas, além de bonecos, imagens e outros materiais físicos. Para tornar essa dinâmica possível, o ambiente de atendimento também muda, desconstruindo a hierarquia e ampliando o acolhimento. Com tudo isso, constrói-se a possibilidade de desenvolver a consciência da pessoa em conflito frente ao problema, instigando a observação a partir de novos pontos de vista para compreender posições, contextos, relações, processos e padrões a fim de encontrar novas possibilidades de solução. Segundo a advogada Bianca Pizzatto, autora de livros sobre o assunto, pode-se, assim, compreender a contribuição da outra parte para o conflito pelo que fez e/ou falou, mas entendendo que o que sentimos e como reagimos é responsabilidade nossa.
Há, frequentemente, confusão ao relacionar e reduzir o atendimento jurídico sistêmico às práticas da Constelação Sistêmica Familiar. Ainda que os dois processos se entrecruzem, inclusive a advocacia sistêmica pode utilizar princípios das constelações, eles não são sinônimos. A intervenção, por exemplo, não é um consenso entre todas as pessoas advogadas que atuam em uma perspectiva de atendimento jurídico sistêmico.
Assim, além de tentar evitar o desgaste físico e emocional dos seres humanos envolvidos na situação, o atendimento jurídico sistêmico pretende agilizar a resolução do problema, escapando da morosidade da justiça brasileira. A eficiência e a pacificação social também são palavras-chave na advocacia sistêmica.